quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Postos de gasolina funcionavam no meio das calçadas de Recife

Essa é uma daquelas notícias que você não sabe onde começa e termina a lista de absurdos:


Postos de gasolina sem plataforma de abastecimento são interditados no Recife
"Postos de gasolina estão sendo interditados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) no Recife por estarem operando em via pública sem plataforma de abastecimento, espaço ao lado de bombas onde os veículos devem parar para abastecer.[...]"

Fonte: Jornal do Commercio, em 20/08/09


Vou tentar achar o começo.
Primeiro ponto: um posto se instala numa calçada. Como um empreendimento desse porte e dessa responsabilidade consegue tal feito sem ser percebido?

O segundo ponto é a cara-de-pau de certa parte da população que simplesmente ocupa os logradouros públicos como se fossem a extensão de seu quintal. E aí, nessa lista, entra todo tipo de estabelecimento: desde o pobre camelô, até o mais nobre dos bares, que as vezes não se satisfazem apenas com a calçada; querem todo o braço, digo, a rua! E agora essa: POSTOS DE COMBUSTÍVEL! E eram logo QUATRO! O mais famoso deles, um posto Texaco, na Rua do Sol, em frente ao Teatro Santa Isabel. Ponto de tráfego intenso de carros e, principalmente, de pedestres - que, se já eram acostumados a desviar de buracos e raizes nas calçadas dessa cidade, agora terão de treinar para um novo tipo de modalidade: o desvio de bombas de combustível!

Por fim, na minha opinião, o maior dos absurdos: alguns desses postos funcionavam há mais de 60 anos! O da Rua do Sol funcionava há 4 décadas, mas, só agora, a ANP, orgão responsável pela fiscalização deles, resolveu interditá-los.

O que me intriga é: o que fazia então esse orgão e seus fiscais antes disso? Aliás, pra que serve a prefeitura do Recife? Seria uma fábrica de carimbos? Se for, só espero que não funcione na calçada.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ensaio sobre o pré conceito e a moral

Quem disse que julgar pela aparencia é errado? A visão é o primeiro e principal mecanismo da percepção humana. Mesmo que você ache politicamente incorreto, a todo instante, seu cérebro, incoscientemente, associa imagens criadas através da visão a inúmeros conceitos pré concebidos. Não há nada de errado nisso. É também um mecanismo de defesa da maioria dos animais, inclusive do Homem. É como associar uma arma de fogo a risco iminente de morte. Ou por exemplo associar a imagem de um lápis a um objeto usado pra escrever e não por exemplo a algo de comer. No caso do lápis, nós aprendemos através da experiência transmitida por alguém (provavelmente nossos pais e professores) sobre o seu conceito, para que servia, como usá-lo; e, na prática, tocando-o e manuseando, experimentamos como é sua textura e consistência, qual seu peso, etc. Enfim, usamos outros sentidos, além da visão, para construir a percepção de um objeto e da próxima vez que o virmos associaremos ele a todas essas características, ou seja, criaremos um conceito sobre aquela imagem; inclusive associaremos aquela imagem a um som(fonema) e uma grafia: "lápis". Em outras palavras, criaremos uma percepção daquilo.

Mesmo tendo todas essas informações sobre o objeto lápis, podemos ser enganados pelos nossos sentidos, inclusive pela visão, o primeiro deles. Como assim? Por exemplo, podemos visualizar um objeto idêntico a um lápis, mas ao manuseá-lo descobrimos que se trata de um prendedor de cabelos na forma de lápis e pintado com as cores de um lápis. Ao tocá-lo perceberemos que não é de madeira, mas de plástico. E ao manuseá-lo perceberíamos que não escreve pois sua extremidade negra não é grafite e sim plástico pintado de preto. Ou seja, nosso pré conceito do objeto em questão não se confirmou como um conceito verdadeiro, embora fizesse todo o sentido.

Opa, se é pré conceito é errado? Não! não há nada de errado nisso.
(Note que não estou entrando no mérito da conatação formal da palavra "preconceito" no dicionário, por isso usarei sempre a palavra separadamente. Apenas um breve comentário: acho que deveria existir outro tipo de expressão para denotar o sentido de preconceito que existe na lingua portuguesa. É óbvio que palavra "preconceito" deriva de "conceito prévio", mas, na verdade, seu sentido formal não é exatamente esse. O português denota dessa palavra um sentido ruim, derivado do "conceito prévio", mas, como nem sempre um "conceito prévio" é algo ruim ou usado para o mal; nesse texto, só usarei a expressão da qual ela deriva: "pré conceito").
Não há nada de errado em conceber um conceito através da visão. É até lógico e fazemos isso centenas de milhões de vezes durante um dia! Nem sempre é possível usar todos os sentidos para concluir acerca do conceito completo de algo. Poderíamos por exemplo ter visto o lápis de longe ou sermos impedidos de tocá-lo, ou de fazer perguntas, enfim de "conhecer" melhor do que se tratava. Existem vários exemplos no cotidiano onde não podemos lançar mão de todos os nossos sentidos. Seja por impossibilidade física, seja por indisponibilidade de tempo ou qualquer outro motivo plausível. Por exemplo: quantas vezes você já não viu uma garoto no sinal com um detergente na mão e um limpador na outra, indo em direção a você e antes que ele chegasse, você já insinuava que "não". O que acontece nessa hora? Você supõe que aquele garoto, com aquelas características, naquele local e de posse daqueles objetos, irá tentar limpar o seu parabrisa e pedir dinheiro por isto. Ou seja, naquele momento, através de experiências passadas, você acabou de associar uma imagem a um conceito concreto que faz todo sentido e que provavelmente vai se confirmar como verdadeiro. Você formou um conceito preliminar ("pre conceituou") de posse apenas de sua visão, pois era seu único sentido disponível naquele momento; seu único recurso de formação da percepção naquela situação. Do contrário, caso você se sentisse desconfortável em usar apenas sua visão, poderia lançar mão da fala, abordar o garoto, perguntar se ele por acaso iria limpar o seu vidro, se iria cobrar por isso, etc; para, só então, responder com a educação que lhe é peculiar: "Não, meu caro jovem, eu não estou interessado no serviço de limpeza de parabrisa. Obrigado.". No entanto essa última situação me parece inviável, pois, nessas ocasiões, não temos tempo para uma análise mais aprofundada, tampouco os carros atrás do seu teriam paciência para esperar.

Conclusão: fazer associações entre imagens e conceitos não é errado. Pelo contrário: é um recurso importantíssimo e inerente aos animais, inclusive mecanismo de defesa muito útil. O que acontece é que o conceito de pré conceito visual foi deturpado pela sociedade e criada uma conotação ofensiva, que, ao meu ver, não deveria existir. É muitas vezes também, confundido com discriminação, o que é algo totalmente diferente.

Finalizando: o que é certo e errado, então? Fato é que o erro não está em interligar imagens a conceitos, por mais que estes não se mostrem corretos - e por vezes não irão estar. Quantas vezes, por exemplo, você não se viu falando para alguém: "Poxa, quando te vi achei q fosses de tal jeito, mas depois que te conheci melhor, vi que não eras". O "conhecer melhor" consiste em lançar mão de outros sentidos disponíveis que temos para conhecer melhor algo ou alguém. Cabe, portanto, a cada um usar o máximo de recursos disponíveis que possuir em cada situação. Se é a visão, que a use. Se é a visão e a fala, que as use. Enfim, o errado está em subutilizar sentidos ou deixar de utilizar outros, quando estes estão disponíveis e são viáveis. Mas não é errado usar somente a visão quando esta é o único recurso disponível. Também não é errado fazer um pré conceito antes de um conceito. Podemos e devemos criar conceitos preliminares conquanto estejamos conscientes de sua superficialidade e incipiência. Porém não podemos divulgar esses conceitos preliminares como se fossem verdadeiros. Podemos, no entanto, divulgar o conceito preliminar que fizemos de algo ou alguém e a conclusão que chegamos, mas temos que deixar claro que se tratam apenas de hipóteses, e não de verdades absolutas. Podemos, sim, criar conceitos preliminares sobre pessoas. Pois é inviável fazer perguntas aprofundadas a todas elas e conhecer suas respectivas “histórias de vida”. Portanto, cabe à visão fazer esse papel de filtro para só então, se possível for, nos aprofudarmos na conceituação e verificarmos se erramos ou não naquele conceito preliminar. E que fique bem claro, se errarmos - e há grande chance de isso ocorrer -, não há nada de feio ou pecado nisso (e que importância isso tem no contexto?), pois isso é um mecanismo de filtragem que viabiliza nosso aprendizado.

Perceba como é sutil a diferença entre moralmente certo e errado nisso tudo. Fazer conceitos preliminares de tudo não é errado, é instintivo e absolutamente todos o fazem. O moralmente certo é ter a mente aberta, ou seja, ter a ciência de que aquele conceito preliminar talvez não se concretize e que eu devo, se viável for, fazer uma análise mais aprofundada para chegar mais próximo da verdade, em outras palavras, deve-se relativizar a verdade. Devo também,e principalmente, ser lógico, ou seja, fazer associações coerentes, que façam sentido. O moralmente errado está em fazer associações generalistas demais ou sem lógica (esse é o erro mais grave, na minha opinião), como por exemplo associar a cor de alguém à sua capacidade; pois não há embasamento nessa analogia. Também é errado divulgar para alguém conceitos preliminares (e, portanto, incipientes), como certeza. Pode-se, no entanto, divulgá-los, contanto que se esclareça que trata-se de um conceito preliminar. Ou seja, você pode expor seus conceitos preliminares para alguém (já que se trata de algo inerente à percepção), porém não deveria fazê-lo de maneira pragmática e taxativa, afirmando concretamente que aquilo que você pensa ser, na verdade é.

“Na maioria das vezes”; “pode ser”; “provavelmente”; “em geral”; etc; são palavras-chaves que fazem toda a diferença entre o moralmente correto ou não nesse caso, pois elas relativizam a verdade.

Exemplo:
A maioria das pessoas que usa brinco é mulher. (Correto)
Quem usa brinco é mulher. (Errado)

A maioria das pessoas com imagens satânicas tatuadas são marginais (relativização correta, porém lógica duvidosa)
Toda pessoa com imagem satânicas tatuada é marginal (errado)

Pra começar

E foi assim, do nada, que decidi criar um blog. Algo que sempre relutei tanto, sempre achei perda de tempo. Logo eu, que sempre tive a necessidade narcisista de expor minhas opiniões. Mas, pensando bem, percebi que algumas vezes a gente tem a necessidade de falar do que pensa ou então pensa que aquilo que a gente tem pra falar é realmente importante a ponto de estar escrito e eternizado, mesmo que ninguém leia, só você. É fato também que essa idéia só amadureceu com a experiência no twitter. As vezes sentia a necessidade de me expressar com textos enormes e muito complexos, o que seria impossivel em apenas 140 caracteres. Nada melhor que um blog, então. Se vai vingar ou não, só o tempo dirá. Certo é que, por enquanto, só pretendo escrever quando der vontade, quando estiver motivado... e não escrever por escrever. Introdução feita, já posso começar.