quarta-feira, 27 de abril de 2011

Saulo e o acaso

Baseado em fatos reais, o filme Magnólia de 1999, se desenvolve em Los Angeles, nos arredores da Rua Magnólia, acompanhando um dia na vida de nove personagens, que moram na mesma área e cujas histórias se cruzam por coincidências do destino. No filme, acontecimentos inusitados e pitorescos (como uma chuva de sapos) se juntam para culminar num final engenhoso e impressionante.

A história do campeonato pernambucano de 2011 se assemelha muito à deste clássico de Hollywood. Em ambas, o roteiro envolve histórias com dramas, reviravoltas e gira em torno do tema destino e suas coincidências. No entanto, a nossa trama se passa em torno da Av. Sport Club do Recife e não há chuva de sapos.


Analogias a parte, foquemos na nossa adaptação futebolística. Que se passa em 2011, mas começa bem antes, no remoto ano de 2006. A cena é a seguinte: Sport, o time da casa, joga pelo empate para conquistar o título do campeonato local. O jogo está 0x0 até os 46 minutos do segundo tempo. Um minuto depois, após uma cobrança de escanteio; um gol contra nos acréscimos faz com que uma competição que estava prestes a acabar, ainda precise ser definida nos pênaltis.
Agora, quem está a alguns segundos de ser campeão é o adversário: o Santa Cruz. Basta que Lecheva, um dos nove personagens da nossa história, converta seu pênalti. Mas ele erra. Neste momento, entra em ação o primeiro herói desta saga: o goleiro Gustavo. Que defende o pênalti e inverte a situação novamente a favor do time da casa. Algumas cobranças depois, resta que Hamilton, companheiro de time de Gustavo, converta seu penalti. Ele o faz. É o gol do título. O primeiro de uma série de 5 consecutivos do Sport, que se torna, então, hegemônico no estado.



Daquele tempo até aqui, o herói Gustavo muda de cidade e de time. Depois volta. Mas desta vez para defender as cores dos rivais. Primeiro o Santa, depois o Náutico. Até finalmente (e novamente) retornar ao Sport, onde agora é o terceiro goleiro.



O filme volta ao presente e chega até a partida entre Sport e Vitória na Ilha do Retiro pela 7ª rodada do campeonato. O Sport empatava em 1x1 com um dos piores times da competição. Estamos nos acréscimos do 2º tempo. O goleiro agora é Saulo. E ele está na área. Mas não na sua área; na área do adversário! Pausa para um flashback: assim como Gustavo, Saulo não é titular. Portanto não deveria estar em campo, muito menos naquela área. No entanto ele está ali esperando uma cobrança de escanteio a favor do Sport, pois Magrão, o titular, havia se contundido. Voltamos ao jogo. O escanteio é cobrado e Saulo cabeceia a bola para fazer o gol da vitória. Frissom e êxtase no estádio. Tanta emoção que, na comemoração, nosso outro herói se machuca e também sai de cena e do campeonato. As 3 substituições do time já haviam sido feitas. Resta agora segurar o resultado com 9 homens na linha e um atacante baixinho debaixo do gol: Carlinhos Bala, que no começo do filme, em 2006, era adversário e jogava no Santa Cruz.
Depois de muito drama, o jogo chega ao fim com a vitória do Sport. Vitória esta que iria garantir o time nas semifinais do campeonato, um ponto a frente do 5º colocado. Agora, no entanto, o adversário é o poderoso Náutico. Que terminara a primeira fase em primeiro e possuía motivação extra para as duas partidas semifinais. Nelas estariam em jogo, não um, mas seis campeonatos. Se triunfasse, o Náutico impediria que o Sport alcançasse a marca do próprio Náutico, conquistada na década de 60. Pra piorar, o Sport chegara na disputa sem ter conseguido nenhuma vitória em clássicos nos 4 jogos do ano, algo que há muito não se via. Acabou conseguindo a primeira: 3x1.


A história já está longa, mas ainda não chegou ao final, em que pese este já pudesse ter chegado. Como no pênalti de Lecheva, ou mesmo na concepção do campeonato. Sim, pois há ai um detalhe muito importante que ainda não foi contado.


Para explicá-lo, voltamos um pouco no tempo e no espaço. Estamos na sala do presidente da Federação Pernambucana de Futebol: Carlos Alberto Oliveira, o responsável por conceber o regulamento da competição. Depois de 5 títulos conquistados consecutivamente por uma mesma equipe, ele está quebrando a cabeça para pensar em alguma fórmula que dê mais emoção àquela trama, cujo final já se tornara repetitivo. Era preciso criar dificuldades para o time que sempre chegava na frente. Ele então substitui a fórmula de pontos corridos pelo sistema de semifinais e final em dois jogos cada. Isto daria a chance do quarto colocado chegar em iguais condições de disputa contra o primeiro, que teria toda vantagem conquistada na fase anterior desfeita.


E o destino quis que o quarto e o primeiro colocados não fossem quem se esperava-se que fossem; acabou favorecendo indiretamente quem queria-se dificultar.


Mas falta algo nesta história. Até então nossa trama só apresentou sete personagens: Lecheva, Gustavo, Hamilton, Carlos Alberto, Magrão, Saulo e Carlinhos Bala. Sim! Faltam outros dois. Possivelmente o herói e o vilão.


E o destino, onde entra definitivamente?



A grande beleza do roteiro de Magnólia são os detalhes que fazem a diferença. Tudo no filme faz sentido e é explicado no “grand finale”. Até mesmo acontecimentos pitorescos, como a chuva de sapos! E nesta história? E o gol de goleiro reserva? Nesta, ainda há coincidências e fatos inusitados a serem explicados. E para a esperança de uma torcida, este não é um filme sobre acaso.

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